Era
preciso alguém experiente. Somente um expert poderia reacender a
tentativa de canonizar um dos fundadores de São Paulo, padre José de
Anchieta, beatificado há distante 30 anos. Que tal a irmã Célia Cadorin,
maior responsável pela canonização do único brasileiro, o Frei Galvão ?
Ótima opção, mas infelizmente impossível, aos 83 anos, depois de
décadas de luta pelas causas de Frei Galvão e Madre Paulina e tocando
processos de outros três candidatos a santos, a cota de milagres de irmã
Célia já está repleta. Mas ela poderia indicar alguém. Será que não
teria um auxiliar ?
A Arquidiocese de São Paulo descobriu que sim, a irmã tinha um braço
direito, ou como ele se define, “um office boy”, pau para toda obra nos
dois últimos anos de canonização do Frei Galvão, que seria “perfeito”
para divulgar a causa de Anchieta. Padre Armênio Rodrigues Nogueira, de
42 anos, capelão do Mosteiro da Luz, foi nomeado em 25 de Junho, 2º Vice
Postulador da causa de Anchieta, o indicado pela maior diocese do País
para “capitanear” o assunto.
Com a experiência de quem percorreu “meia cidade”, de carro ou de
metrô, para “resolver todo tipo de pepino” como ajudante de irmã Célia,
padre Armênio agora se sente preparado para assumir responsabilidade
maior. “O paulistano tem de saber que, na sua cidade, existem pessoas
santas. Que o fundador de São Paulo foi uma pessoa santa”, defendeu o
religioso, paulistano da Vila Brasilândia, na zona norte. “As pessoas
conhecem o Anchieta histórico, missionário e catequista, mas seu lado
religioso é ignorado. Temos de mostrar o Anchieta milagroso, que ficou
conhecido como o “apóstolo do Brasil”.
Conhecido pelo estilo pratico, em 20 dias da nova função padre
Armênio já definiu quartel-general para tocar a causa, uma sala no Museu
de Arte Sacra, na Luz, onde montará seu “gabinete Anchieta”. “Só falta
pendurar uma imagem do beato, para inspirar as reuniões.” Ele também
criou um e-mail (apostolodobrasil@yahoo.com.br), encomendou site (www.apostolodobrasil.com.br)
e estima para agosto a distribuição de 5 mil santinhos nas 300
paróquias sob responsabilidade da Arquidiocese. Além disso , celebra
missa todo dia 9 do mês, em homenagem a Anchieta. “Para conseguirmos
encontrar e comprovar o milagre (condição para o Vaticano reconhecer
santidade), vamos popularizar o beato, com a ajuda de todos os
envolvidos no processo”, disse, em referencia aos outros três vice
postuladores já nomeados no Brasil.
Na semana passada, “se sentindo meio perdido”, padre Armênio procurou
ajuda especializada, bateu na sede da Congregação Irmãzinhas da
Imaculada Conceição, no Ipiranga, à procura da maior inspiradora. A
“apostila de orientação para causas de canonização” está pronta, irmã
Célia ? Mas a resposta da amiga foi que ainda não está. Balançou a
cabeça: “Vou ter de me virar.”
Tardio. Armênio definiu sua vocação tardiamente, entrou no seminário
somente aos 25 anos, e foi ordenado padre aos 34 anos em 2001. Antes
disso, dividiu sua vida entre o emprego como propagandista vendedor de
remédios, da industria farmacêutica Breves, com o então amigo, José de
Figueiredo Rodrigues (Zezinho Rodrigues, falecido ontem 17.7.2010), e a
paixão pelo Corinthians, na sala de casa, dentro do Mosteiro da Luz,
alias, qualquer imagem sacra é ofuscada por uma grande bandeira do time,
que toma a parede toda.
O amor pelo esporte também virou profissão: por quatro anos, na
década de 1980, foi árbitro profissional de futebol de salão, registrado
na Federação Paulista. “Separei muita briga em ginásio por ai”, contou.
“Mas, desde pequeno , gosto da vida religiosa. Demorei porque era
apegado a uma tia (Maria Preciosa dos Santos) e à avó paterna (Aurora
Dias Pereira) e decidi sair de casa, só depois que morressem, (1990).
Entre amigos é conhecido como padre “gente fina”, tratamento
dispensado a qualquer um que o cumprimente. E que, de tão repetido,
batiza pizzas em restaurantes da Freguesia do Ó, na zona norte. A
“Pizza Gente Fina” no restaurante e pizzaria Ciccarino e a “Pizza do
Padre” na Pizzaria Bruno; foram criadas, segundo conta, por causa da
assiduidade com que vai às pizzarias, no cardápio do padre, há pizza ao
menos cinco vezes por semana.
Musica portuguesa é outra paixão. Herdou do pai (Sr. Armênio Dias
Rodrigues Nogueira, falecido em 2005) o acervo de 600 discos de fado e,
para aproveitá-lo criou o programa Caravela do Fado, na Radio 9 de
Julho, que apresenta toda sábado das 19 as 20h, desde 2008. “Sem falar
nas palhinhas de guitarra portuguesa, que estou aprendendo a tocar, com o
Mestre, amigo e professor, Manuel Marques”.
E é com musica que pretende também, divulgar a causa de Anchieta. Na
semana passada, pediu ao cantor Claudio Fontana, autor de popular canção
para Frei Galvão, que crie um jingle também para o beato. Assim que
ficar pronta, comenta o padre Armênio, além da divulgação de rádios, a
musica deve soar também em sua secretária eletrônica , sai o jingle
atual, que homenageia Frei Galvão (santo já conhecido e adorado no
Brasil todo) e entra José de Anchieta, atualmente precisando de mais
divulgação.
Matéria publicada no Jornal O Estado de São Paulo, pág. C 8 – 18/07/2010
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